31 outubro 2008

Espantar-me na rua (2) (continua)

E lá prossigo esta série.
1. Somos, em cada dia, o coágulo daquilo que em nós se tornou natural. Olhamos as coisas, sentimos as coisas, apalpamos a vida pelo prisma das coisas tornadas naturais, inquestionáveis. Não é tanto o natural que se torna social, quanto o social que se torna natural. O social naturalizado é o que, saído de nós, aceite por nós, colocamos nos museus, nos arquivos.
2. Aquela gente ali come docemente. O restaurante é belo, do género tosco prepositado, com lâmpadas discretas para simular uma atmosfera de um rural adaptado à cidade. Quem certamente não sabe disso são os pedintes, os vendedores de batiques e as crianças que desde manhã cedo petiscam o ar livre em suas roupas recolhidas nas latas de lixo, mundo que, de fora, retina tensa, mira os camarões e as galinhas que não comerá.
3. A Avenida Mao Tsé Tung já tem as primeiras mulheres da noite. Hoje, como se diz em Maputo, é sexta-feira dos homens.

Sem comentários: