24 novembro 2014

Resultados eleitorais e teses preguiçosas (9)

Nono número da série. Trabalhando sempre com hipóteses, termino o terceiro ponto dos seis pontos sugeridos aqui, a saber: 3. O mundo das teses preguiçosas nos media. Baseada numa numerosa equipa e apoiada por uma bateria de métodos e técnicas (algumas delas aplicadas pela primeira no país, designadamente a técnica do painel, escalas de atitudes, análise de conteúdo discursivo, rumores e diferencial semântico), a pesquisa que dirigimos furtou-se ao simplismo das teses monofactoriais e sugeriu, prudentemente, uma chave cognitiva multidimensional, combinando dinâmicas globais e locais. No tocante a escalas, por exemplo, tivemos em conta vários tipos de votos: na primeira e terceiras escalas, o pressuposto foi o de que a taxa de participação é tão mais elevada quanto mais fortemente afectados forem os interesses dos votantes (voto de interesse); na segunda, o pressuposto foi o de que a taxa de participação é tão mais elevada quanto mais fortes forem as pressões sociais exercidas sobre os votantes no sentido da participação (voto de compromisso) ; na quarta, o pressuposto foi o de que a preferência expressa pelos eleitores exprimiria, também, a influência da propaganda eleitoral (voto de persuasão). A última escala tinha por pressuposto o de que os eleitores estavam desgostosos com a "perda de sentido" causada pela multiplicidade de "vozes de comando" e, por consequência, com a democracia multipartidária em curso. Finalmente, tivemos em conta o voto omisso, decorrente do que chamámos "influências contraditórias". Neste caso, o pressuposto  foi o de que a taxa de participação seria elevada se as pressões se manifestassem no mesmo sentido; caso contrário, os eleitores abster-se-iam. Neste tipo de situações, os votos brancos e os votos nulos são especialmente significativos, não tanto porque as pessoas sejam tecnicamente ignorantes, mas porque elas escolhem deliberadamente ou deixar o voto em branco ou votar em dois ou mais partidos. Apesar da busca de profundidade analítica, não nos furtámos, porém, à autocrítica de alguns dos nossos resultados. (vide Serra, Carlos [dir], Eleitorado incapturável, Eleições municipais de 1998 em Manica, Chimoio, Beira, Dondo, Nampula e Angoche. Maputo: Livraria Universitária, 1999, pp.43-243)

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