21 dezembro 2014

Frágeis são as almas quando o dinheiro comanda a vida

Moradias que fazem parte da história arquitectónica desta cidade foram destruídas ou estão a sê-lo, para dar lugar a prédios. Duas, geminadas, foram destruídas na Avenida Friedrich Engels; outra, na Rua de Chuinde, perpendicular à Engels. Um pouco por todo o Bairro da Polana (mas não só) os sinais do historicídio são cada vez mais visíveis. Consta-me (mas preciso absolutamente de acreditar que isso é boato) que também vai desaparecer o velho e nobre restaurante Piripiri, na Avenida 24 de Julho.
ComentárioNum dos seus livros, o ensaísta, crítico literário, tradutor, filósofo e sociólogo Walter Benjamin analisou um quadro de Paul Klee chamado "Angelus Novus". Segundo Walter, o anjo apenas via ruínas na estrada do progresso. Para ele, o progresso era uma tempestade. Talvez pudesse dizer que estamos perante um anjo pessimista que nada compreendia da modernidade em seu misto de paradoxo e contradição. Talvez eu seja uma pobre versão local do anjo passadista de Klee ao lamentar que uma parte importante das zonas verdes da cidade de Maputo esteja a desaparecer rapidamente, substituída por condomínios e moradias de luxo. Talvez, ainda, eu seja um conservador ultrapassado pela história do desenvolvimento ao verificar que o mangal da Costa do Sol está a ser trocado por condomínios de luxo. Talvez eu seja uma voz ultrapassada pela modernidade ao ver a morte diária da história arquitectónica desta cidade. Tudo o que é sólido se desfaz - escreveram Marx e Engels há mais de 150 anos. Se sofrer por ver verde, mangal e antigas moradias "desfazerem-se" é um acto de conservadorismo, então sou profundamente conservador. Absolutamente conservador por ver ruir o que era sólido e história na cidade de Maputo. Frágeis são as almas quando o dinheiro comanda a vida.

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