31 julho 2016

Guerra e hermenêutica das valas comuns em Moçambique [21]

Número anterior aqui. Permaneço no sexto e último ponto do sumário [recorde-o aqui], a saber: 6. Sentido múltiplo, generalizações e economias. Escrevi, já, que à retaguarda do espectáculo da massiva preocupação com valas comuns e corpos a céu aberto em fotos de choque, habitavam outros sentidos, genuínos uns, politicamente interessados outros. Entro do primeiro campo de análise sugerido no número anterior, a saber: 1. Medo genuíno da guerra e da morte. Primeiro, o surgimento da notícia [acompanhada de fotos falsas] da existência de uma vala comum com 120 corpos em Sofala e, depois, de notícias sobre cadáveres a céu aberto em Sofala e Manica, deram origem a um generalizado clima de medo da guerra, da violência e da morte. Somos um país que alberga na memória o aguilhão de guerras passadas, uns por as terem vivido, outros por as terem conhecido por relatos das famílias e dos amigos. Por isso não espanta que, a vários níveis, pessoas tenham expressado o quanto as preocupava e magoava saberem de assassinatos bárbaros, em particular quando foram levadas a acreditar numa falsa vala comum não com alguns corpos, mas com 120. Talvez ainda possa ser oportuno e possível estudar o trauma transmitido e vivido. A isso deve acrescentar-se o impacto de um certo tipo de ciberterrorismo, que produzia e produz em permanência relatos de perdas consideráveis de vidas no exército governamental, com o claro objectivo de manter o medo activo e desmoralizador.

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